No início do século passado, o parto era atendido majoritariamente no domicílio, por parteiras. As famílias tinham muitos filhos para que alguns resistissem às difíceis condições de vida à época, quando não havia antibióticos para prevenir e curar infecções.
A partir dos anos quarenta, começou a crescer a tendência à hospitalização dos partos, e chegamos no final do século passado com mais de 90% dos partos realizados em hospitais. Os avanços na antibioticoterapia e na disponibilidade de meios tecnológicos para diagnóstico e terapêutica, assim como a melhoria nas condições de vida, contribuíram de forma importante para a efetiva redução na mortalidade materna e neonatal.
O entusiasmo crescente com as possibilidades do desenvolvimento industrial do século XX influenciou todos os setores da atividade humana. Também no setor Saúde o componente técnico foi privilegiado em relação ao componente do cuidado, e a racionalidade mecânica ou industrial – apenas em função da produtividade – foi aplicada a muitos aspectos da atenção. Ainda que “dar à luz não seja uma doença ou processo patológico” (Marsden Wagner, 1982), a assistência a nascimentos também seguiu esse padrão industrial, e algumas maternidades agendam cesarianas como se fossem uma linha de produção de nascimentos, por conveniência de profissionais e das instituições, ostentando taxas de 70% e até 100% de cesáreas.
Por outro lado, tem crescido o número de pesquisas que identificam algumas práticas de atenção como formas de violência institucional, tanto para mulheres como para seus bebês, havendo trabalhos que salientam a importância da primeira vivência infantil como marcadora (imprinting) para a continuidade da vida desse recém-nascido.
Considerando a riqueza desse processo, que além de biológico, tem sido abordado como fenômeno cultural, social, sexual e espiritual, numa concepção holística, há um forte movimento nacional e internacional que propõe a humanização da atenção a nascimentos e partos como uma resposta à mecanização na organização do trabalho e à violência institucional.
É sobre esse importante aspecto da vida – o bom começo – que falaremos neste fórum, buscando compartilhar a perspectiva positiva de mudança nas práticas de atenção como uma contribuição para a redução da violência grassante em nossa sociedade.
Daphne Rattner é médica epidemiologista, com doutorado pela Universidade da Carolina do Norte, EUA, professora da Universidade de Brasília – Departamento de Saúde Coletiva; integra a diretoria da International MotherBaby Childbirth Organization – IMBCO e a coordenação executiva da Rede pela Humanização do Parto e Nascimento – ReHuNa; é conselheira da Rede Ibfan-Brasil – International Breastfeeding Action Network e da Relacahupan – Rede Latinoamericana e do Caribe pela Humanização do Parto e Nascimento; organizou com Belkis Trench o livro Humanizando Nascimentos e Partos; e foi presidente da III Conferência Internacional sobre Humanização do Parto e Nascimento, realizada em Brasília em novembro de 2010.
ENTRADA FRANCA
9 de agosto de 2011 ▪ terça-feira ▪ 19 horas
Auditório do MASP ▪ Museu de Arte de São Paulo
Av. Paulista, 1578 – São Paulo/SP – Estação Trianon-Masp do metrô
Não é necessário fazer inscrição antecipada
Realização: Comitê da Cultura de Paz
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