Comitê da Cultura de Paz e Não Violência

Suzana Camargo – 08/10/2014 às 14:36

 

Muito se sabe sobre a figura histórica de Mahatma Gandhi, mas há um lado do ativista indiano pouco estudado: o Gandhi civilizacional. É assim que Rajni Bakshi se refere a ele.

Rajni BakshiA também indiana, escritora e jornalista especializada em Economia, foi a palestrante do 116º Fórum do Comitê da Cultura de Paz, promovido pela Associação Palas Athena, em parceria com a Unesco. “Será a ganância garantia de desenvolvimento? Gandhi e a Economia” foi o título do encontro, realizado esta semana no auditório do MASP, em São Paulo.

Rajni, uma profunda conhecedora dos ensinamento do pacifista indiano, começou sua conversa contando sobre um episódio simbólico da vida de Gandhi. Era 1909 e o ativista esta reunido com estudantes na África do Sul. Questionado sobre uma possível revolta da Índia contra a dominação britânica, ele afirmou que era necessário derrubar não o Império Britânico, mas a civilização moderna.

Mas qual seria o problema da civilização atual se milhões de pessoas são felizes com o estilo de vida que ela oferece? Para Gandhi, o termo civilização não tinha nenhum tipo de relação com acúmulo de bens ou a conquista de novas tecnologias. Para ele, o termo deveria significar um lugar onde as pessoas viviam juntas em paz. “Isto era o conceito de civilização moderna para Gandhi”, afirmou Rajni Bakshi. “Não a modernidade que cultua e privilegia os fins em detrimento dos meios”.

Em uma longa viagem que fez, o ativista indiano se debruçou sobre uma importante tarefa: escrever um manifesto pela justiça social. Nele, Gandhi critica o que chama de darwinismo social, ou seja, a sobrevivência dos mais fortes sobre os mais fracos. Ele fala ainda sobre a discriminação social em seu próprio país através do sistema de castas. Defendeu abertamente também a igualdade de gêneros, ao denunciar a discriminação contra as mulheres. “Gandhi dizia coisas que estavam muito a frente de seu tempo”, acredita a jornalista.

O que o mestre indiano queria realmente mostrar era que todos estamos interconectados. Ele tinha uma visão holística sobre o mundo. E do desenvolvimento. Somente com um ecossistema econômico que contempla a todos conseguiremos nos livrar da ganância. Hoje, milhões de pessoas vivem em estado de miséria: não econômica, mas lutando para sobreviver porque são obrigadas a ganhar dinheiro, mas sem tempo para descobrirem seu propósito na vida.

Rajni Bakshi enxerga o mundo atual mais preparado para ouvir o que Gandhi tinha a dizer. Ela sente que já houve uma grande mudança. O atual modelo de desenvolvimento está sendo contestado. “Há um terreno fértil para mudanças, as pessoas querem fazer alguma coisa”, disse.

A escritora também falou sobre um dos nossos maiores problemas atualmente: asmudanças climáticas. “Este não é um desafio econômico, mas um desafio da civilização”. Segundo ela, precisamos rever nossos valores para combater o aquecimento global. Mas já, pois esta é uma questão urgente.

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