Comitê da Cultura de Paz e Não Violência

Suzana Camargo – 11/06/2014 | Planeta Sustentável

Mesmo com poucas opções de alimentos e estilo de vida mais selvagem e arriscado, o homem das cavernas tinha uma alimentação bastante saudável e adoecia pouco. É surpreendente quando olhamos para a evolução da humanidade e percebemos que hoje em dia, com a fartura que temos à disposição em nossa mesa, nos tornamos mais obesos e sofremos mais com doenças crônicas.

Para discutir a questão alimentar, o tema do 113º Fórum do Comitê da Cultura de Paz, promovido pela Associação Palas Athena, em parceria com a Unesco, teve como tema Muito além da comida – Alimento como direito, política e saúde. O encontro, realizado esta semana no auditório do MASP, em São Paulo, reuniu Maluh Barciotte, bióloga e doutora em Saúde Pública e Ambiental com pós-doutorado em Escolhas Alimentares, e Marcos Nisti, vice-presidente do Instituto Alana*, membro do Conselho do Greenpeace e sócio da Maria Farinha Filmes.

Em nossa vida atual, não refletimos mais sobre nossa escolhas alimentares. Há pouco entendimento e uma pressão enorme da publicidade para comermos o que empurramcomo saudável. “Temos realmente escolhido aquilo que comemos?”, questiona Maluh. Para ela, temos sofrido de normose, uma forma de comportamento que parece ser normal, mas na realidade, não é. Deixamos de consumir alimentos, para ingerir produtos alimentícios, que nem de longe tem o mesmo valor nutricional que os primeiros e, obviamente, são muito mais calóricos e nocivos para nossa saúde.

Assim como na sociedade em que vivemos, em que se prega a bandeira do consumir,consumir e consumir – e Maluh lembra a definição de consumir no dicionário: gastar ou corroer até a destruição, extinguir, devorar, também temos feito o mesmo com nossa cadeia alimentar. Estamos ultrapassando limites e acabando com a resiliência de certas culturas. Um exemplo disso está no mar. A sardinha, comum na costa brasileira, está acabando. A pesca exagerada e sem cuidados em décadas passadas fez com que o peixe desaparecesse no litoral do país.

A consequência de escolhas erradas feitas nos cardápios por crianças, pais e escolas está nos consultórios médicos. As taxas de sobrepeso e obesidade aumentaram muito no Brasil. Mais de 30% das crianças brasileiras estão com sobrepeso. O prato brasileiro tão saudável – arroz, feijão, salada e carne, foi substituído por alimentos processados e junk food.

Maluh acredita, entretanto, que já há um movimento em prol de uma mudança alimentar. Em várias cidades surgiram hortas urbanas e feiras orgânicas se tornam mais populares. A especialista citou também a edição da revista National Geographic O futuro da comida, que se debruça sobre o grande desafio de alimentar – de maneira sustentável, a população mundial que deverá chegar a 9 bilhões de pessoas em 2050.

Em São Paulo, o governo municipal tem trabalhado para melhorar a qualidade da merenda escolar. Além de comprar alimentos produzidos por agricultores locais da região, acaba de lançar o Prêmio Educação Além do Prato, que busca a melhoria dos hábitos alimentares dos alunos através da participação de merendeiros, crianças, educadores e famílias.

Como hábitos alimentares são formados e consolidados durante o período da infância, Marcos Nisti, do Instituto Alana, falou sobre o trabalho que a entidade realiza para garantir os direitos das crianças. Grande marco neste esforço foi a divulgação do documentário Muito além do peso, que teve enorme repercussão. O filme mostra como os jovens brasileiros comem cada vez pior e revela fatos impactantes sobre o que realmente eles consomem: quilos e quilos de açúcar e gordura.

Apesar da propaganda para crianças ser proibida no Brasil, revela Nisti, a televisão ainda influencia muito o que elas comem. E aqui, dizem as pesquisas, nossas crianças passam em média, 5 horas por dia, em frente da televisão.

Entre outros projetos idealizados pelo Alana estão as Feiras de Trocas de Brinquedos e o Satisfeito, que estimula as pessoas a comer menos e restaurantes a contribuir com dinheiro para combater a fome infantil.

E você, o que tem feito para garantir um prato saudável para sua família?

*Instituto Alana
Muito Além do Peso

Confira a matéria original no site do Planeta Sustentável.