Comitê da Cultura de Paz e Não Violência

ENCONTRAR O OUTRO NO MEIO DA PONTE: essa necessidade expressa pelo escritor Amos Oz, em entrevista publicada no jornal O Estado, resume a negociação em situação de conflitos.

É o mesmo mote do excelente filme Diplomacia, de Volker Schöndorff, uma produção franco-alemã, em cartaz em São Paulo. É agosto de 1944. O exército aliado prepara a sua marcha em direção a Paris, ocupada pelos nazistas desde 1940. Dietrich von Cholitz, o general alemão que governa a cidade, tem ordens diretas de Hitler para a destruir. As pontes sobre o Sena, assim como o Louvre, a Notre Dame, a Torre Eiffel e outros monumentos, estão armadilhados com explosivos prontos a detonar. Raoul Nordling, cônsul sueco, encontra-se ali para tentar dissuadir o general de executar ordens insanas que levarão à morte milhares de inocentes e destruirão um patrimônio da humanidade.

O filme é uma verdadeira aula de resistência pacífica e de negociação de conflitos.

Grandes conflitos, do passado e do presente, como os do Oriente Médio, precisam de que nos encontremos no meio da ponte.

Como também é o conflito que vivemos hoje no Brasil, multifacetado, que mistura corrupção, várias formas de violência, narcotráfico, desastres sociais e ambientais, desastre econômico, falta de perspectivas e, sobretudo, grande desilusão.  Situação complexa que não se resolve com respostas simples.

A desilusão está nos levando a impasses e ao florescimento de fanatismos – das chamadas esquerda e direita, o que quer que isso signifique atualmente. Provavelmente nada, além de velhas ideias do século passado.

Amos Oz fala do fanatismo, que viveu na pele, no seu conflito pessoal em meio ao conflito entre judeus e palestinos. Do fanatismo “que se agrava e se torna violento em tempos de grande desespero, em locais de grande desilusão.”  E defende que é preciso senso de humor e capacidade imaginativa para, de algum modo, realizar o encontro no meio da ponte, que significa o reconhecimento mútuo e a disposição de negociar.

O diplomata sueco, numa situação extrema, consegue acionar, no filme, humor e imaginação, aproximando-se humanamente do general alemão, fazendo aflorar dúvidas que ele tinha contido na sua mente e no seu coração, dilemas humanos que procurava sufocar para cumprir seu papel oficial.

É o que fazemos muitas vezes, sufocamos as dúvidas para defender uma ou outra ideia ou ação e, como fanáticos, fazemos calar os dilemas, que nos fazem humanos e que nos irmanam.

Precisamos de humor e de imaginação para sair da armadilha em que estamos na sociedade brasileira, precisamos afastar o véu das certezas para poder enxergar uma nova perspectiva de futuro – do meio da ponte.