Comitê da Cultura de Paz e Não Violência

Quase 47% das horas de vigília são gastas em pensamentos sobre o que não está acontecendo

Por Steve Bradt
Artigo publicado originalmente em inglês no portal Harvard Science 

Tradução: Elisabete Santana
 
 
Os psicólogos de Harvard, Killingsworth [à esq.] e Gilbert
usaram um aplicativo especial para iPhone em sua pesquisa.
Resultado: gastamos quase metade do nosso tempo
pensando sobre coisas diferentes das que acontecem ao
nosso redor e a maior parte desses devaneios não nos
faz felizes.
As pessoas despendem 46,9% de suas horas de vigília pensando em algo diferente do que estão fazendo, e essa mente divagante normalmente as torna infelizes. É o que diz um estudo que utilizou um aplicativo para iPhone para reunir dados sobre como temas de pensamentos, sentimentos e ações fazem parte de suas vidas.

A pesquisa, dos psicólogos Matthew A. Killingsworth e Daniel T. Gilbert, da Universidade de Harvard, está descrita na edição de novembro/2011 da revista Science.

“A mente humana é uma mente dispersa, e uma mente dispersa é uma mente infeliz”, escrevem Killingsworth e Gilbert. “A habilidade de pensar sobre o que não está acontecendo é um feito cognitivo que traz um custo emocional.”

Ao contrário de outros animais, os humanos passam muito tempo pensando sobre o que não está acontecendo ao seu redor: contemplando eventos que aconteceram no passado, que poderão acontecer no futuro ou que nunca acontecerão. Na verdade, a mente divagante parece ser o modo padrão de operação do cérebro.

Para rastrear esse comportamento, Killingsworth desenvolveu um aplicativo para o iPhone que contatava 2.250 voluntários em intervalos aleatórios para perguntar-lhes o quanto estavam felizes, o que faziam naquele momento e se estavam pensando em sua atividade atual ou em outra coisa que era agradável, neutra ou desagradável.

Os indivíduos podiam escolher entre 22 atividades generalizadas, como caminhar, comer, fazer compras e assistir televisão. Em média, os entrevistados relataram que suas mentes estavam divagando 46,9% do tempo, e nada menos que 30% do tempo durante cada atividade, exceto fazer amor.

“A mente errante aparece onipresente em todas as atividades”, diz Killingsworth, estudante de doutorado em psicologia em Harvard. “Este estudo demonstra que nossas vidas mentais são permeadas, em um grau notável, pelo não-presente.”

Killingsworth e Gilbert, professor de psicologia em Harvard, descobriram que as pessoas eram mais felizes quando estavam fazendo amor, se exercitando ou participando de uma conversa. E eram menos felizes quando em repouso, trabalhando ou usando o computador em casa.

“A mente errante é um excelente indicador de felicidade das pessoas”, afirma Killingsworth. “De fato, o quanto nossas mentes deixam o presente e para onde vão é um melhor indicador de nossa felicidade do que as atividades que desempenhamos.”

Os pesquisadores estimam que apenas 4,6% da felicidade das pessoas em um dado momento é atribuída a uma atividade específica que ela ou ele está fazendo, enquanto a condição de mente errante é responsável por cerca de 10,8% da felicidade dela ou dele.

Análises de longo tempo conduzidas pelos pesquisadores sugeriram que a mente dispersa de seus objetos de estudo eram geralmente a causa, e não a consequência, de sua infelicidade.

“Muitas tradições filosóficas e religiosas ensinam que a felicidade pode ser encontrada ao viver o momento, e praticantes são treinados a resistir à mente errante e ‘estar no aqui, agora’”, acrescentam Killingsworth e Gilbert. “Estas tradições sugerem que uma mente dispersa é uma mente infeliz.” Com esta nova pesquisa, dizem os autores, essas tradições estão corretas.

Os 2.250 entrevistados por Killingsworth e Gilbert em seu estudo têm entre 18 e 88 anos, representativos de uma ampla gama de classes sociais e profissões. 74% dos participantes são norte-americanos. Mais de cinco mil pessoas estão usando oaplicativo para iPhone.