Sandra Godoy – Palas Athena
Por que Mahatma Gandhi ainda inspira e surpreende quase setenta anos após sua morte? O que o processo criativo, a arte, a não violência e a busca da verdade têm em comum? Para responder a estas questões, a Associação Palas Athena, em correalização com o SESC, em parceria com o Consulado Geral da Índia e o Centro Cultural da Índia em São Paulo e com a cooperação da UNESCO, realizou a 36ª Semana Gandhi, no Teatro do SESC Vila Mariana, no dia 10 de outubro.
Apresentado por Vanessa Trielli, o evento trouxe o Cônsul em exercício da Índia em São Paulo, sr. Jitendra Singh Rawat, o músico Fábio Kidesh e a companhia de teatro Arts Company. Para a mesa temática, foram convidados o fotógrafo Érico Hiller, o cineasta, produtor e pesquisador cultural Leonardo Brant e o ator João Signorelli.
A gerente do Sesc Vila Mariana, Mariângela Abbatepaulo, abriu o evento dando boas-vindas e agradecendo o público e elogiando a parceria com a Associação Palas Athena. “Trabalhamos juntos há muitos anos em atividades que incentivam a cultura de paz e a cidadania, repudiando toda forma de preconceito, violência e intolerância”, ressaltou.
Em seguida, o músico Fábio Kidesh, que dedica seus estudos à música clássica indiana desde 2012 tocando sitar, instrumento usado amplamente em todo o subcontinente indiano, popularmente conhecido em todo o mundo através das obras de Ravi Shankar, apresentou a música preferida de Gandhi, chamada Raghupati Raghav Raja Ram.
O Cônsul em exercício da Índia em São Paulo, sr. Jitendra Singh Rawat, abriu sua fala citando outro luminar do século passado, Albert Einstein, que nutria grande admiração por Gandhi: “Gerações por vir terão dificuldade em acreditar que um homem como este realmente existiu e caminhou sobre a Terra”. Ele parabenizou a iniciativa de celebrar a vida e o legado do líder indiano, “muito necessária neste mundo turbulento”. O Cônsul fez uma análise sobre a validade dos ensinamentos de Gandhi no mundo atual. “A civilização avança, mas a humanidade perece, por isso ele se faz cada vez mais importante”. Ele citou a prática da não violência, em nome da Satyagraha (busca da verdade), que permeou a vida do líder.
Ao encerrar seu discurso, o sr. Jitendra chamou ao palco a professora Lia Diskin, cofundadora da Palas Athena e entregou dois painéis com as fotos da exposição “Vida e legado de Gandhi”, montada na sede da Associação Palas Athena em setembro. Ela agradeceu a homenagem e lembrou os presentes dos três verbos usados pelo Mahatma: insistir, resistir e persistir.
Para a mesa temática, foram convidados três artistas cujos ensinamentos de Gandhi provocaram mudanças fundamentais em suas vidas, e que procuram, através da arte, perpetuar o legado do líder indiano, ainda vivo depois de sete décadas de sua morte.
Érico Hiller, fotógrafo documental independente, autor de projetos como “Emergentes” (2008), “Ameaçados” (2011), “Tênue Linha” (2013) e “A Jornada do Rinoceronte” (2007-2016), fruto de nove anos de dedicação, fotografando em sete países entre Ásia e África, disse estar há mais de dez anos seguindo os ensinamentos de Gandhi, “nas pequenas grandes coisas da vida”. Sempre tendo em mente a questão “Como a verdade pode impactar nossa vida?”, ele levou para seu trabalho de fotógrafo a Satyagraha, a busca da verdade. Em seu projeto sobre os rinocerontes, ao ter a oportunidade de fazer uma fotografia rara de um chifre do animal em extinção abatido por um caçador, ele decidiu falar a verdade, mesmo correndo o risco de perder a foto. Seu próximo projeto fotográfico será percorrer a pé o caminho feito por Gandhi em 1930, conhecido como a Marcha do Sal, desde seu Ashram até a praia de Dandi, na Índia.
O cineasta e pesquisador cultural Leonardo Brant relatou como, há dez anos, sua vida se transformou a partir de seu contato com a autobiografia de Mahatma Gandhi. “Estava em um momento de auge profissional, mas em uma profunda crise existencial, quando comecei a trazer seus ensinamentos e experiências para minha vida – a partir disso, mudei tudo, em relação ao trabalho, aos relacionamentos, à alimentação, à espiritualidade”, contou. Ele mostrou trechos de seu novo projeto: Gandhi & Eu, um documentário em primeira pessoa no qual ele mostrará o impacto dessas mudanças em sua vida.
Encerrando a mesa temática, o ator João Signorelli, conhecido do grande público pela atuação em diversas obras no teatro, cinema e televisão, e que vive há 14 anos o personagem Mahatma Gandhi em uma peça de teatro que já percorreu o Brasil, Índia e, mais recentemente, Moçambique, contou o que aprendeu nesta década e meia encarnando o líder indiano no monólogo Gandhi, um líder servidor e ética inspiradora. Ele revelou que recusou um papel em uma minissérie na TV Globo porque teria que interpretar um matador. “Como eu poderia interpretar Gandhi num dia e matar pessoas em outro?”, questionou. O diretor e a autora da série ficaram tocados com sua atitude, e criaram um novo personagem para ele, um fotógrafo. “Este foi um exemplo de como o Mahatma Gandhi e o compromisso com a verdade me afetaram, em todas as áreas de minha vida”, reforçou João, que no próximo ano apresentará o monólogo em Rishikesh, na Índia.
Para terminar a celebração, a companhia teatral Arts Company encenou a pocket peça Caminhada do Sal, especialmente criada para a Semana Gandhi, que foi apresentada junto ao coro Pina Brasil. No final, o público foi convidado a formar uma grande ciranda, num momento de comunhão pela vida e legado de Gandhi.