As incertezas e a perplexidade que afligem a maioria da população, acuada pelos problemas de sobrevivência, e a urgência com que exigem respostas aos desafios existenciais constituem um estímulo para pensar criticamente nossa realidade controvertida e contraditória. Para alguns seria o fim da História, enquanto para outros, é o início de uma nova fase na evolução da humanidade. Incertezas, instabilidade e contradições aparentemente insolúveis levam os indivíduos a perder a confiança em si, nos outros e no governo da sociedade. “Tudo que é sólido, se desmancha no ar” já dizia Marx, há 150 anos. O desmanche continua desde então, em ritmo e intensidade acelerados, configurando uma situação de caos. Onde encontrar as respostas às dúvidas existenciais, às interrogações cruciais de cada indivíduo pensante: Quem somos? Donde viemos? E aonde vamos?”
Sartre ensinou que os seres humanos nascem para serem livres. Mas liberdade implica também em responsabilidade. Somos responsáveis pelo que fazemos ou deixamos de fazer. Agindo e pensando sobre nossa realidade, transformamos essa realidade e a nós mesmos, encontrando sentido para nossas vidas. Sem uma orientação que guie nossas ações, a vida no mundo de incertezas torna-se um pesadelo, cheio de paradoxos e violência, sobretudo para a juventude angustiada e aparentemente incapaz de decifrar enigmas, para os quais nem a ciência nem a religião oferecem respostas satisfatórias. A vida nos ensina que elaboramos nossos valores e, com base nestes, em convívio e cooperação com os outros, encontramos os diferentes sentidos da vida. Não há satisfação maior para o indivíduo do que quando ele se sente aceito e valorizado, fazendo parte de um todo maior.
A premissa central de nosso discurso postula, contra qualquer determinismo, que toda a realidade é uma construção social e, como tal, pode ser destruída e reconstruída. Os impactos dramáticos do desenvolvimento desigual, aumentando o fosso entre ricos e pobres, ajudaram a lançar a reivindicação central de nosso tempo – direitos humanos – não como uma visão utópica ou idealista, mas como condição básica para a sobrevivência da sociedade e a sustentabilidade de suas instituições.
Esse é o cerne de uma ética universal que transcende todos os outros sistemas de crenças e valores, como síntese da consciência humana, ciente da preciosidade de todas as formas de vida e da necessidade de cooperação, solidariedade e interdependência. Essa ética é fundamentada em valores de alcance universal – a conquista do bem-estar e da felicidade, através da liberdade [no sentido pregado por Amartya Sem]. Ela se refere a um devir, uma visão do futuro da humanidade que tem inspirado os pensadores libertários, desde Thomas More, os socialistas utópicos [Fourier, Saint Simon e R. Owen], até os defensores do socialismo científico, baseado no materialismo dialético.
O desmoronamento da ex-URSS teria eliminado a utopia do pensamento e das aspirações contemporâneas?
Henrique Rattner: É licenciado em Ciências Sociais e mestre em Sociologia, com doutorado em Economia Política [USP] e pós-doutorado em Planejamento Urbano e Regional [MIT/EUA]. Foi Coordenador do Programa ProLides Brasil da ABDL – Programa de Liderança e Desenvolvimento Sustentável no Mercosul. É professor titular aposentado da Escola de Administração de Empresas da Fundação Getúlio Vargas [São Paulo] e da Faculdade de Economia e Administração [USP] e Professor Emérito da ECEME [Escola de Comando e Estado Maior do Exército]. Foi coordenador do NAMA – Núcleo de Pesquisa em Economia, Sociedade e Meio Ambiente, coordenador de pesquisas e consultor de instituições nacionais [CNPq, FINEP, MCT, SEPLAN/SP, SENAI, SEBRAE] e internacionais [ONU, UNESCO, Banco Mundial]. Publicou mais de 20 livros e mais de 200 artigos em revistas e jornais, nas áreas de política científica e tecnológica, economia e sustentabilidade.
ENTRADA FRANCA
25 de maio de 2004 – terça-feira – 18h
Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo
Auditório Paula Souza
Av. Dr. Arnaldo, 715 – São Paulo – [Estação Clínicas do Metrô]
Realização: Comitê Paulista para a Década da Cultura de Paz – um programa da UNESCO