O professor Nei Alberto Salles Filho convida educadores para uma discussão sobre a influência do tema na sociedade e nas salas de aula, e também destaca a ações no Paraná
Foto: Arquivo NEP |
No próximo mês inicia a quarta edição do curso ‘Educação para a Paz: Fundamentos e Metodologia’, uma promoção do Núcleo de Estudos e Formação de Professores em Educação para a Paz e Convivências, da Universidade Estadual de Ponta Grossa (NEP/UEPG), em parceria com o Serviço Social do Comércio (SESC/PG). O coordenador do NEP/UEPG, o professor Nei Alberto Salles Filho, que atua há dez anos na promoção da paz nas escolas, em entrevista ao Vamos Ler falou sobre esse processo que envolve a mediação pedagógica de conflitos, os valores humanos e a qualificação das relações interpessoais.
Vamos Ler: Qual a melhor definição para o termo ‘Educação para a Paz’?
Nei Alberto Salles Filho: Educar para a Paz é educar para convivências com qualidade, para o diálogo ético e com responsabilidade; é respaldo para discutir sobre direitos humanos e desigualdades sociais; também serve para fundamentar as relações humanas em valores positivos e, sobretudo, ampliar o respeito às diferenças e à não-violência a qualquer forma de vida e ao meio ambiente. Por isso dizemos sempre que uma Cultura de Paz só é possível se houver uma Educação para a Paz.
Vamos Ler: Por que é importante discutir a paz nas escolas?
Nei Filho: Porque durante anos reforçamos apenas os aspectos e os dados estatísticos sobre a violência nas escolas e percebemos que essa forma de abordagem não tem funcionado. Os alunos respeitam apenas algumas regras, mais por medo que por consciência sobre a necessidade e importância da vida em coletividade. E não podemos esquecer que muitas vivências escolares, aprendidas na escola, também são reproduzidas fora da escola.
Vamos Ler: Como professores podem inserir esta temática no currículo?
Nei Filho: Não existe uma receita, por isso muitas pessoas têm receio ou fazem críticas a esses movimentos sem conhecer com profundidade questões sobre tipologia de violências, técnicas de mediação de conflitos escolares e processos construtivos em valores humanos na escola. Muitas universidades têm disciplinas com estas temáticas já na formação inicial de professores (graduação), mas o trabalho maior ainda está na formação continuada. De qualquer maneira, a Educação para a Paz tem melhores resultados quando é tratada pelo coletivo escolar em parceria com a comunidade. O grande potencial dela está em ser pensada como um tema transversal na escola e como um dos elementos importantes no processo de gestão escolar.
Nei Filho: Existem algumas experiências nesse sentido, porém, em nossos estudos, observamos que se há uma disciplina de Educação para a Paz a responsabilidade cai em cima de um único professor, qualquer violência que aconteça na escola a ‘culpa’ é desse professor. Por isso, reiteramos que se queremos, de fato, enfrentar toda a violência que assola a sociedade e, por extensão, a educação escolar, devemos entender a Cultura de Paz como um movimento para darmos as mãos, um trabalho coletivo que envolva mais pessoas pensando juntas.
Nei Filho: Durante os cinco anos de existência do NEP aprendemos e contribuímos com os colegas professores da Educação Básica. Vemos mudanças nos professores, nos alunos e também nas escolas. Mas sabemos que mudanças culturais precisam de mais tempo para se estabelecerem, por isso a necessidade de todos continuarem abordando o tema, participando dos eventos e trocando as boas experiências, pois cada comunidade, cada escola, tem suas próprias configurações em relação aos processos e prevenção da violência.
Vamos Ler: Como está a discussão sobre Educação para a Paz no Estado do Paraná?
Nei Filho: O Paraná é um dos estados que tem discutido e pensado muitas coisas importantes e interessantes sobre esse movimento. Eu destaco a cidade de Londrina, que possui um Conselho Municipal de Cultura de Paz (COMPAZ) e mobiliza muito a comunidade; Curitiba, que abriga muitas organizações não-governamentais que atuam na prevenção das violências; e o nosso trabalho aqui em Ponta Grossa com o NEP, que é mais específico na formação de professores. Além disso, são dezenas de instituições de ensino em todo o Estado que já passaram da fase de ‘projetos de paz’ para, efetivamente, colocar a Educação para a Paz como um eixo fundamental da escola.
Inscrições
Curso de Educação para a Paz
A quarta edição do curso ‘Educação para a Paz: Fundamentos e Metodologia’ é formado por quatro módulos, que serão ministrados de julho a novembro de 2012, todos gratuitos. Os interessados devem se dirigir ao SESC Ponta Grossa (Rua Theodoro Rosas, 1247, Centro) de 02 a 06 de julho, portando RG e CPF, para efetuar sua inscrição. As vagas são limitadas. “O curso destina-se, principalmente, a educadores, mas temos recebido cada vez mais colegas Assistentes Sociais e Psicólogos, além de acadêmicos dessas áreas. O mais importante é estar disposto e pensar coletivamente, pois o curso depende muito do protagonismo dos envolvidos. Não podemos mais pensar que profissionais façam cursos olhando apenas o certificado e a carga-horária, embora faça parte do processo”, destaca o professor Nei Filho.
Mais informações podem ser solicitadas diretamente no e-mail: nep@uepg.br.