Comitê da Cultura de Paz e Não Violência

Com Kabengelê Munanga

De todos os continentes do nosso planeta, a África é o mais desequilibrado em seu processo de construção de uma cultura de paz. No entanto, se olharmos para a história da humanidade, perceberemos que os povos da África “negra” não são nem mais nem menos violentos que os dos outros continentes.

A explicação dessa situação está na sua própria história: tráfico, escravidão, colonização, neo-colonização, guerras civis, calamidades naturais, falta de estruturas políticas e democráticas, a negação das identidades étnicas, e os conflitos resultantes da manipulação política e ideológica das diferenças culturais entre populações que convivem num mesmo território.

No espírito de Sócrates a paz, como virtude, parece natural, ou seja, não precisa ser ensinada e se traduz no respeito e justiça que asseguram a sobrevivência da espécie. Protágoras, ao contrário, defende a idéia de que todo mundo pode contribuir para ensiná-la. A Europa Ocidental começou, depois da Segunda Guerra Mundial, a construir seu processo de paz, hoje ilustrado pela União Européia. Mas infelizmente não contribuiu, ou contribuiu pouco para o processo de paz nos países africanos que foram suas colônias.

Enquanto os países africanos, em sua maioria, não reunirem o mínimo de condições que favoreçam a construção de certo equilíbrio comum, a trajetória do continente nesse sentido continuará a ser prejudicada, e até mesmo entravada. A construção da paz no mundo deveria ser encarada como um dever de todos os países em defesa do direito humano mais sagrado: o da vida.

 


Kabengelê Munanga: professor titular do Departamento de Antropologia da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, vice-diretor do Centro de Estudos Africanos da Universidade de São Paulo, e autor de mais de 80 publicações, dentre elas: Estratégias e políticas de combate à discriminação racial, Edusp, 1996; Rediscutindo a mestiçagem no Brasil. Identidade nacional versus identidade negra, Ed. Autêntica, 2003; Para entender o negro no Brasil de hoje, Editora Global, 2006, e Superando o racismo na escola, MEC, 2005.

 


ENTRADA FRANCA
10 de outubro de 2006 – terça-feira – 19 horas
Auditório do MASP – Museu de Arte de São Paulo Av. Paulista, 1.578 – São
Paulo – SP (Estação Trianon-Masp do Metrô)

Realização: Comitê Paulista para a Década da Cultura de Paz