Comitê da Cultura de Paz e Não Violência

Vivemos uma era de impressionantes mudanças. No centro do redemoinho a explosão de novas tecnologias, que mudam as formas de
organização do conhecimento, transformam a organização social, desarticulam os nossos valores, criam e destroem profissões, geram um clima geral de perplexidade e freqüentemente de angústia.

As tecnologias avançam em ritmo vertiginoso, mas não os nossos valores, as formas de organização política e social. Gera-se assim uma
disritmia entre as técnicas e a sociedade que por elas é atropelada. As tecnologias encolheram o planeta, gerando a globalização. Empresas financeiras especializadas atacam a moeda de um país, transformando-o na “bola da vez”, como se não se tratasse de um povo, de uma civilização, de poupanças duramente amealhadas por gerações de trabalhadores.

Meia dúzia de donos de redes de mídia mundial administram literalmente a nossa visão de mundo, pois as pessoas formam opiniões com as informações que conseguem. Os Estados agitam inutilmente as suas velhas armas políticas nacionais, quando a batalha já passou para a esfera planetária, onde não há governo algum. Os países ricos, com 15% da população mundial, controlam 80% da produção, morrem de tédio e de câncer. No Terceiro Mundo, 3 bilhões de pessoas se sustentam com menos de 2 dólares por dia, dos quais 1,2 bilhão com menos de 1 dólar. Não navegam na Internet, não compram automóveis, não entendem porque não se pesquisa a malária, porque se destrói a vida nos mares, porque são pobres num mundo rico. Como são pobres, não têm como investir. E como não investem, não têm como enriquecer.

A sustentabilidade do processo acelerado de transformações que vivemos passa por novas dinâmicas: o resgate de valores, a democratização da informação e do  conhecimento, o controle dos sistemas especulativos mundiais, o desenvolvimento de espaços de democracia participativa, o resgate da solidariedade humana. O mundo se tornou demasiado pequeno para que o ser humano, e particularmente as grandes instituições de poder, se comportem como gafanhotos num campo de trigo. A Terra é uma só.


Ladislau Dowbor: É doutor em Ciências Econômicas pela Escola Central de Planejamento e Estatística de Varsóvia, professor titular da PUC de São Paulo e da UMESP, e consultor de diversas agências das Nações Unidas. É autor de A Reprodução Social, O Mosaico Partido, ambos pela editora Vozes, além de O que Acontece com o Trabalho? (Ed. Senac) e co-organizador da coletânea Economia Social no Brasil (Ed. Senac).
Seus numerosos trabalhos sobre planejamento econômico e social estão disponíveis no site: dowbor.org

 


ENTRADA FRANCA
14 de outubro de 2003 – terça-feira – 18h
Local: Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo
Av. Dr. Arnaldo, 715 – São Paulo – (Estação Clínicas do Metrô)