Comitê da Cultura de Paz e Não Violência

Com Yves de La Taille

Falar em felicidade costuma fazer sorrir um bom número de intelectuais, que vêem nesse tema uma preocupação apolítica, frívola e boa apenas para inspirar livros de auto-ajuda. E mesmo se falarmos em “virtudes” – cujo cultivo era, para Aristóteles, condição necessária ao usufruto de uma “vida boa” – bom número de cientistas socais e de filósofos verão nesse tema mais um perigo no campo da alienação política do que uma perspectiva real de perfectibilidade do homem A felicidade seria decorrente da ordem das reformas sociais, não da sabedoria individual. Porém, ao lado
dos céticos que são, cremos, a maioria, há outros, notadamente filósofos e psicólogos, que parecem perceber a necessidade, para não dizer a urgência, de retomar o tema da felicidade. Não para justificar a deserção da política, mas sim porque seu abandono causou mais impasses do que soluções. Para dar apenas quatro exemplos, citemos Taylor, Ricoueur, Comte-Sponville e MacIntyre. De minha parte, enquanto especialista em Psicologia Moral, estou convencido que o tema da felicidade é essencial para se compreender os comportamentos humanos, entre os quais os comportamentos morais.

Para explicitar essa tese, parto da diferenciação dos conceitos de moral e ética. O plano moral é aquele dos deveres e sua contrapartida psicológica é o sentimento de obrigatoriedade. Como vários conteúdos podem ocupar o plano moral, elejo os de justiça, generosidade e honra como necessários para compor uma moral. O plano ético é aquele das respostas dadas para viver uma vida que faça sentido – condição necessária à felicidade. Como também há várias formas de dar sentido à vida, e como nem todas são coerentes com a moral, chamo de ética (junto com Paul Ricoeur) a perspectiva de uma via boa, para e com outrem, no seio de instituições justas.

Isto posto, serão analisadas as dimensões intelectuais (regras, princípios, equacionamento e sensibilidade morais) e afetivas (amor, medo, simpatia, indignação, confiança, culpa e vergonha) presentes no desenvolvimento moral e suas relações com a ética (sentimento de auto-respeito). Procurarei assim mostrar a íntima relação psicológica entre  moral e ética e as implicações educacionais de tal relação, com destaque para a construção da personalidade, ela mesma um valor.

 


Yves de La Taille: nasceu na França, mas desde criança vive no Brasil. É professor de Psicologia do Desenvolvimento Moral e chefe do Laboratório de Estudos do Desenvolvimento e da Aprendizagem do Instituto de Psicologia da USP. Investiga o
desenvolvimento moral desde a década de 80, e é um dos especialistas mais respeitados do país nessa área. Autor, entre outros, de Limites: Três Dimensões Educacionais e Vergonha, a Ferida Moral. É co-autor, com o Professor Mario Sergio
Cortella, de Labirintos da Moral.

 


ENTRADA FRANCA
9 de maio de 2006 – terça-feira – 18 horas
Auditório do MASP – Museu de Arte de São Paulo
Av. Paulista, 1.578 – São Paulo – SP (Estação Trianon-Masp do Metrô)