Entre os dias 28 de novembro e 9 de dezembro, acontecerá em Durban, África do Sul, a COP-17, mais uma rodada de negociações sobre mudanças climáticas. Quem participou de algumas conferências globais sobre a questão ambiental sabe que os principais frutos destes debates são palavras, palavras e mais palavras. O blá-blá-blá de sempre, muita conversa e nenhuma ação. O que salva estas reuniões tediosas entre políticos, cientistas e conservacionistas são os contatos interpessoais e as sinergias que acontecem entre indivíduos.
Só entendi a razão da visita do alemãozinho Felix Finkbeiner quando ele estendeu uma faixa que dizia em inglês “Stop Talking, Start Planting” (Pare de Falar, Comece a Plantar). Ele pegou o microfone e – com carisma, inteligência e domínio de palco – deu uma tremenda bronca em todos os adultos que estavam sentados. Fez perguntas que quase todos se engasgaram ao responder – como a altura da massa de gelo da Groenlândia – e questionou porque os governos não reagem à ameaça das mudanças climáticas. “Se seguirmos os céticos e não atuarmos, caso eles estejam errados em 40 anos, aí será tarde demais”, afirmou Felix. “Vocês adultos não estarão mais neste planeta, mas nós, jovens, sim.”
Felix acaba de cumprir 14 anos, mas seu ativismo começou há quase cinco anos. Como tarefa de aula, ele teve de estudar sobre as mudanças climáticas para fazer uma apresentação a seus coleguinhas de classe e explicar os efeitos negativos dos gases de efeito estufa. Também falou sobre soluções: árvores podem capturar os gases e compensar o estrago promovido pelas emissões. Terminou com um desafio dramático aos amigos: “Vamos plantar um milhão de árvores em cada país do planeta!”
Seus amigos toparam a provocação. Inspirados pelo exemplo da queniana Wangari Maathai, ganhadora do Prêmio Nobel da Paz em 2004, o movimento “Plante para o Planeta” chegou a outras escolas da Baviera, da Alemanha e da Europa. Adultos descolados viram que o menino tinha garra e resolveram apoiar a iniciativa. Uma agência de publicidade alemã ajudou a criar a campanha “Pare de Falar, Comece a Plantar”, desenhando uma imagem que poderia ser reproduzida por qualquer ativista mirim ao lado de uma autoridade ou celebridade. A mão direita do menino ou da menina deve tapar a boca do adulto! A modelo brasileira Gisele Bundchen, engajada na causa ambiental, topou ficar calada (foto acima).
Depois da apresentação de Felix, almoço com ele e seu pai – que o trouxe da Alemanha para o evento. “Vim hoje, um sábado, porque não posso perder as aulas”, diz o garoto. “Além de estudar, ainda consigo brincar e jogar futebol.” O resto de seu tempo é reservado para liderar a campanha que hoje alcança mais de 100 países. “Queremos plantar 132 milhões de árvores na primeira fase do projeto e já estamos em 4 milhões”, afirma Felix.
Felix e seus milhares de amigos atuam em três frentes de luta. Pretendem abolir o consumo dos combustíveis fósseis, fomentar o uso igualitário dos recursos naturais por cada cidadão e plantar árvores. Uma das técnicas do movimento revolucionário é multiplicar o número de Felix pelo mundo. “Criamos uma Academia onde meninos e meninas de outros países passam por um treinamento intensivo. Eles estudam a crise climática, aprendem a falar em público e explicam como plantar árvores”, afirma o pequeno líder que sabe o que acontece sobre reflorestamento da Armênia ao Zimbabue. Felix é o presidente do Conselho Global da ong para o biênio 2011-2012. “A vice presidente é a Aligani que mora em Lucknow, na Índia. Sempre nos falamos por internet.”
E a pergunta inicial do Felix sobre a espessura do gelo na Groenlândia? Você sabia que a média ultrapassa os 2.100 metros de altura? E que, em alguns pontos, chega a mais de 3 mil metros? Se todo este gelo derreter (ao contrário da calota polar do Ártico, que já está dentro d’água), o nível do mar subiria mais de 7 metros! Felix, você tem razão, vamos plantar! Mesmo se a Groenlândia não derreter, nosso planeta ficará mais saudável! E continue dando broncas nos adultos.