O neurocientista e autor de best-sellers Richard Davidson investigou a conexão entre o cérebro e as emoções, chegando à conclusão de que estas últimas influenciam a saúde e o bem-estar
Por Andreu Belsunces Gonçalves
O mais menosprezado
Recentemente, o neurocientista e autor de best-sellers Richard Davidson, especialista na interseção de neurociência e emoção, apresentou um estudo que dá um passo adiante com argumentos que comprovam a crença popular de que os sentimentos influenciam a saúde e o bem-estar geral. Pode soar como um acorde de autoajuda new age, mas suas afirmações são contundentes. As emoções têm cumprido uma importante função no processo evolutivo por ser parte da experiência e do comportamento.
Segundo o autor, as emoções surgem no curso da evolução por uma razão: promover a sobrevivência. Facilitam a adaptação do organismo a seu entorno. Surgem para solucionar tipos específicos de problemas. De fato, esclarece Davidson, as emoções não seriam uma parte tão robusta de nossas experiências se não tivessem uma profunda origem evolutiva.
Ainda hoje, e apesar dos avanços alcançados neste campo, muitos psicólogos e cientistas pensam que a região do cérebro chamada córtex pré-frontal, cuja função é coordenar pensamentos e ações de acordo com determinados objetivos, funciona sem grande influência das emoções. Davidson critica esta perspectiva, sentenciando que é um anacronismo assumir que pensamentos e sentimentos pertencem a reinos separados.
Estilos emocionais
Do mesmo modo que ninguém duvidaria em pensar que cada um de nós tem uma forma particular de personalidade, as pesquisas de Davidson sustentam que cada pessoa tem também uma forma específica de estilo emocional, determinado por seis componentes: a capacidade de recuperar-se de adversidades, de manter as emoções positivas, de adaptação emocional ao contexto, a sensibilidade aos “sinais sociais”, a consciência de si mesmo e das próprias necessidades, e quão centrado ou disperso se é.
Em suas pesquisas sobre os efeitos da meditação (entendida como um exercício mental) na capacidade de adaptação à mudança que os neurônios têm, Davidson encontrou-se com o Dalai Lama. O líder do budismo tibetano sugeriu-lhe que se a neurociência pode investigar emoções como medo ou depressão, também poderia aprofundar-se sobre a bondade e a compaixão.
Foi por isso que este especialista começou a pesquisar em que medida a meditação pode fomentar mudanças no cérebro e promover comportamentos associados a qualidades positivas da mente.
Assim como uma pessoa pode exercitar seu corpo ou aprender a tocar um instrumento, ser feliz também é uma capacidade que pode ser melhorada, mas, como tudo, requer a prática. Cultivando intencionalmente os padrões emocionais é possível ser responsável pelas próprias emoções. Do mesmo modo que temos hábitos alimentares ou posturas corporais que nos beneficiam ou nos fazem mal, também temos determinados hábitos mentais. Se cultivar o intelecto e saber priorizar um tipo de pensamento sobre outro é símbolo de sabedoria, é lógico pensar que regular as emoções também o seja. A meditação, afirma Davidson, é uma boa forma de adestrar os sentimentos.
Adaptação ao contexto
Entretanto, nem todos os estilos emocionais são igualmente fáceis de mudar, nem tem por que sê-lo. Estando conscientes das prioridades e necessidades, é possível adaptar o contexto ao estilo emocional. Assim, se alguém não aprecia trabalhar rodeado de pessoas, não deve considerar isso como um problema, mas buscar uma forma de trabalhar em um entorno mais intimista.
Novamente, tudo se resume em “Conhece-te a ti mesmo”. Às categorias de “personalidade” ou “caráter”, agora se pode agregar a de “estilos emocionais”. A diferença é que esta última está cientificamente demonstrada.